Entrevista - Ana Angélica Marinho: "A cidade precisa olhar para todos os bairros e não só para os centrais"

Ana Angélica Marinho é pré-candidata a vice-prefeita pela cidade de Itajubá, tendo ao seu lado Dr. Bob. Seu nome foi definido no último sábado, 15 de setembro, em convenção partidária para definições de registro da candidatura. 

Na entrevista, ela questiona o papel dos vices-prefeitos na cidade, comenta sobre os bairros mais privilegiados com as obras da prefeitura, diz ter uma relação tranquila com Dr. Ricardo Mello, também candidato à prefeitura, e destaca a importância de se falar em ISTs.

Confira a entrevista: 

Cidadania Pensante: Qual deve ser o papel de um vice-prefeito?

Ana Angélica: O papel de um vice, antes de tudo, é ser ativo, é colocar em prática, junto com prefeito, o projeto que foi escolhido pelas urnas para a cidade. É dialogar e ouvir seus moradores; esse é o seu papel. Não aceitei o convite com intuito de ocupar uma cadeira, e sim de ouvir as pessoas, ir aos bairros, olhar nos olhos do próximo, e, principalmente, buscar condições para sanar os problemas apontados. Não podemos ficar sentados esperando as mudanças acontecerem.

Cidadania Pensante: Por que, na maioria das vezes, é um cargo decorativo?

Ana Angélica: Será? Ou os vices eleitos em nossa cidade não souberam exercer suas funções? Vale ressaltar que todos os últimos prefeitos e vices, pelo menos, até a redemocratização, foram homens. Sou mulher e a representatividade é essencial para que nossas pautas sejam ouvidas, que as mulheres guerreiras que enfrentam jornadas triplas sejam contempladas por nosso município.

Cidadania Pensante: O que a levou aceitar o convite do Dr. Bob para compor a chapa?

Ana Angélica: Eu não esperava entrar para a política. Como muitos brasileiros, estou desapontada com a toxicidade que se alastra no debate público. A quantidade de fake news e ataques é assustadora, não existe debate. Contudo, não posso confundir política com “políticos de carreira”. É preciso ocupar esses espaços. Por isso, aceitei o convite do Bob para entrar na chapa.  

As pautas sociais que defendi a vida toda são representadas no seu projeto, agora nosso projeto. E não posso deixar essa oportunidade passar, se tenho a chance de melhorar as condições da nossa cidade, levar as questões sociais adiante; eu tenho que no mínimo tentar. Não posso deixar a política à mercê dos “profissionais”.

Além disso, temos origens familiares semelhantes, viemos de famílias humildes. Sabemos que apoio e escuta fazem toda a diferença. Vejo na parceria com o Bob a continuidade das minhas lutas.

Cidadania Pensante: Vendo configuração das chapas, percebemos que um colega de voluntariado é candidato também. Isso foi pensado pela coligação ou uma boa coincidência? A relação com o Dr.Ricardo é boa?

Ana Angélica: Eu diria que isso é fruto do reconhecimento do nosso trabalho voluntário, de como ele é importante para a cidade. Vejo como positiva nossas candidaturas, as nossas pautas em comum são beneficiadas e o debate sobre elas aumenta.

Conheci o Ricardo num momento difícil da minha vida, quando a epidemia da AIDS era algo real e assustador. Trabalhamos juntos na ONG SOS VIDA, fui presidente, dediquei 26 anos da minha vida a instituição. Respeito-o como profissional e nossa relação é tranquila, temos nossas divergências e se estamos em chapas diferentes não há nada de errado com isso, a democracia é plural. No mais, desejo ao Ricardo uma excelente campanha.

Cidadania Pensante: A próxima gestão da cidade deve dar continuidade ou de ruptura ao que foi feito nos últimos anos?

Ana Angélica: A próxima gestão tem que pesar e avaliar as ações da anterior, não passar pano ou fazer uma caçada. Vejo como positiva a construção do parque da cidade e do teatro, - que é maravilhoso - porém são medidas que não foram integradas com o restante de Itajubá. É direito de todos os moradores usufruir destes espaços públicos. É cabível famílias pagarem dois ônibus para chegar ao parque e mais dois para voltar não tendo o que comer? Não é! 

A cidade precisa olhar para todos os bairros e não só para os centrais: o asfaltamento é um exemplo claro disso. No BPS, os trabalhos foram feitos de maneira rápida; já, em outros não há a mesma vontade, existe demora na conclusão, atrapalhando a rotina dos moradores.

A gestão também precisa dar maior importância ao meio ambiente, existe esgoto a céu aberto em bairros periféricos, o saneamento básico é um direito constitucional e a proteção dos nossos cursos d’água é essencial para o bem-estar das pessoas, principalmente dos bairros periféricos e zonas rurais.

Neste mês e no anterior, a cidade viu vários focos de incêndio, a qualidade do ar ficou péssima sem contar os danos à nossa fauna e flora. O que a gestão fez? Existem planos para combater essas queimadas ilegais? Temos pessoal para isso? São perguntas que precisam ser respondidas.

Isso me leva a outra questão que Itajubá precisa melhorar: sua transparência. De acordo com o Ministério Público Federal, nossa cidade está na posição de 624 em relação às cidades mineiras. Piranguinho, Brazópolis e Pouso Alegre estão à nossa frente. A transparência é um dever da gestão pública, e não um favor.

Cidadania Pensante: Deixe uma mensagem aos que ainda não a conhecem e que eventualmente queiram conhecer os trabalhos de perto.

Ana Angélica: Sou Ana Angélica Santos Marinho, ou, para os mais íntimos Géli. Nasci em Maria da Fé e mudei para Itajubá com 15 anos por decisão influenciada pelos meus pais, exemplos de dedicação, ética e caráter para mim. Minha mãe foi homenageada como uma das mulheres guerreiras da avenida Franqueira em Maria da Fé para meu orgulho. 

Com 18 anos entrei por concurso na EFEI, hoje UNIFEI, como datilógrafa e fui crescendo dentro da instituição através de concursos internos e externos, chegando a secretária executiva. Também foi dentro dela que tive contato com as pautas sociais mais abrangentes.

Fora da EFEI, na mesma época, dei aulas no magistério do XIX de Março, fui voluntária na creche de passagem de crianças em situação de risco Primeiro Passo; participei do projeto Soldado Cidadão no Batalhão Pontoneiros da Mantiqueira, onde fui reconhecida como amiga do batalhão. 

Fui vice e depois presidente da Associação dos Moradores do Bairro Jarrinha, Estância e adjacências.

Fui professora na AAMAI nos cursos voltados para jovens em situação de risco, também fui presidente da ONG SOS VIDA, onde dediquei mais de 20 anos na instituição, sendo minha causa pessoal.

Recebi a comenda Maria Aparecida Sanches Coelho por serviços voluntários dedicados à causa social. 

Como podem ler, dediquei grande parte da minha vida às causas sociais, porque senti na minha pele o que o preconceito e falta de apoio causam. Sou soropositiva e criei meu filho Lucas sozinha. Foi um tempo difícil, pois mamãe estava com leucemia e não comuniquei a família a situação em questão. Meus amigos desapareceram. O preconceito falava mais alto.

Quando descobri o HIV no meu corpo existiam dois caminhos: aceitar a doença e entendê-la como um peso, ou buscar uma vida melhor para mim e para outras pessoas portadoras. A luta contra o HIV não é fácil, te acompanha todos os dias, mas juntos a batalha é menos árdua. Queria salientar isso especialmente para os jovens, a transmissão de ISTs está aumentando entre eles. É necessário políticas públicas que conversem com eles, focadas na prevenção e conscientização.

Todas essas experiências e preocupações estou colocando a disposição da população com a minha pré-candidatura a vice-prefeita.