A Matemática da ignorância

30 de abril de 2020. Saio para comprar pão na mercearia mais próxima da minha casa, aonde vou duas vezes ao dia (pela manhã e à tarde) para comprar não só o pão, mas os alimentos e outras coisas que faltam à medida que o mês acaba. Boa notícia: às quintas-feiras, o quilo do pão sai por R$ 5,99, ou seja, seis pães na quinta equivalem a quatro pães nos outros seis dias. Quantos números!

É deles - dos números - que falaremos aqui. Já no "Caixa", um discurso alto e apressado de um senhor com seus 55, 60 anos, que encontrou seu amigo contemporâneo de máscara. Educadamente, o amigo pergunta:

- Cadê a sua?

Ele responde:

- Virou política isso daí. Aqui morreu uma pessoa. Se estivessem morrendo 200 por dia, tudo bem(!), mas, daqui a pouco, o Brasil vai falir, e aí vocês vão ver.

Voltei para a minha casa pensando sobre as contas. Nos últimos quatro dias, passa de 400 o número de mortos. O dobro do que o senhor desafiou ao passar a compra. Ele, na verdade, não percebe que a rivalidade saúde versus economia só existe no Brasil em razão das trapalhadas do Presidente da República.

Quem sabe ele pudesse fazer um exercício bem prático: imaginar que metade do número de pessoas fosse de sua família. O que acontece é que Bolsonaro e seus servos, como discursou o agora Ministro da Justiça, tratam números como uma mera estatística. Mais: lançam desconfianças sobre o trabalho das pessoas que estão em hospitais e funerárias, contando corpos a mil.

Por esse senhor e por tantas outras pessoas, penso, todas as vezes, em não voltar para comprar pão para, quem sabe(?), não ser o segundo da cidade. Ele vai continuar sem máscara, mas a minha família, como a família de tantos pelo mundo, não me quer parte da matemática verdadeira.

Por favor, despreze a matemática da desconfiança, da subestimação e da ignorância. Ou você pode não saber que, quinta que vem, o pão estará no forno com promoção suficiente para passar no seu vale-alimentação.