Entrevista: Carlos Molina - "Tenho a impressão de que o nosso Executivo Municipal tem andado um passo à frente do Estado"

Vice Presidente da Câmara Municipal de Itajubá logo em seu primeiro mandato no Legislativo, Carlos Molina é professor universitário e fala ao Cidadania Pensante sobre as impressões do mandato, as relações com o executivo e explica a versão da Mesa Diretora sobre a verba de R$ 500 mil que não foi destinada à Santa Casa da cidade. 


Confira a entrevista: 

Cidadania Pensante - Como você avalia o mandato nestes quase três anos e meio?
Carlos Molina: Pessoalmente, tem sido um tempo especial de muito aprendizado e crescimento como cidadão. Lembro-me de ter ouvido, logo no início do mandato, algo que vejo agora como a mais pura verdade: “Todo cidadão deveria ter a oportunidade de ser vereador por alguns meses. Ele passaria a ter uma visão bem mais verdadeira e produtiva da cidadania e da democracia”. Penso que a avaliação do mandato, propriamente dita, teria que vir das pessoas que me acompanham. Algo que é comum ouvir delas, e eu tendo a concordar, é que o meu mandato tem sido bastante técnico, baseado no estudo cuidadoso das matérias. A parte diretamente política, sobre a qual temos que concordar: tem muito de positivo e até de bonito, ainda estou aprendendo devagarinho.

CP - A base do seu eleitorado foi cristã e conservadora. De que forma você os mantém, caso queira se reeleger em 2020?
Molina: Primeiramente, tento continuar sendo o “Carlão” ou o “Presbítero Carlão” de sempre. Isso não é fácil, por vários motivos, mas, necessário. Uma linha de ação que julgo importante, e isso tem a ver com o meu lado “professor”, é que busco sempre dar feedback, o mais didático possível, das coisas que acontecem no Legislativo Municipal. Isso inclui, muitas vezes, a necessidade de desfazer mal entendidos ou até mentiras que são lançadas, principalmente, nas redes sociais. Por fim, há pautas que defendo, justamente por ser cristão e conservador, como por exemplo, a “Escola Sem Partido”, que encontram grande eco entre estes que você chamou de “base eleitoral”.

CP - Existia, no início da sua trajetória política, um grupo de apoio à candidatura e ao exercício do mandato. Esse grupo permanece ciente dos seus atos na Câmara Municipal e participa de forma orientadora nas ações?
Molina: Esse grupo permanece ciente, não apenas dos meus atos, mas da política municipal de forma geral. No entanto, não mais me orientam. Houve um determinado momento em que tivemos uma ruptura. De forma simplificada: eu julgava interessante que o grupo continuasse o importante trabalho de orientação, mas a maioria deles entendia que as suas opiniões deveriam ter caráter deliberativo. Após essa ruptura, encontrei outras pessoas que estão sempre prontas a me ouvir e aconselhar, o que inaugurou uma etapa ainda mais relevante de aprendizado e de ações profícuas.

CP - A tendência é de que a verba para a realização das atividades comemorativas ao aniversário da cidade estejam disponíveis para outros fins. A Câmara pode interferir no destino dessa verba?
Molina: Sim. Essa é a tendência. O decreto de calamidade pública, inclusive, dá essa possibilidade de remanejamento de verbas de uma pasta para outra que esteja necessitando. Nesse caso, me parece óbvio que as pastas de Saúde e Desenvolvimento Social sejam as prioritárias até o final do ano. A Câmara pouco interfere nas decisões e destinações de recursos nesse caso, utilizando apenas o instrumento das indicações, sejam formais ou não, para apontar ao Chefe do Executivo, as diferentes demandas que, eventualmente, ele não esteja visualizando.

CP - O vereador Cleber David mencionou que, no último ano, foi feito um repasse da ordem de R$ 1 milhão, mas que, agora, a Mesa Diretora se recusou a repetir a ação, com metade do montante, que poderia ajudar a Santa Casa do Município no combate à pandemia da COVID-19. Qual foi a posição da Mesa Diretora e por que esse dinheiro não foi repassado para este fim?
Molina: Há vários pontos importantes nessa questão, entretanto os mais relevantes são: (1) a sobra de 1 milhão no ano anterior mostra que, dificilmente, teríamos 500 mil sobrando após um trimestre (é provável que, daquilo que há em caixa, no máximo 300 ou 400 mil possam ser devolvidos ao Executivo); (2) qualquer devolução caberá ao Chefe do Executivo e, nesse momento específico, também ao Secretário de Saúde e Comitê de Gestão de Crise, decidirem qual é a prioridade; (3) em nenhum momento a Mesa Diretora “se recusou” a fazer a devolução. Nesse ponto, julgo importante frisar que ninguém, dentre os que se ocuparam de propagar essa notícia, divulgou a íntegra da resposta da Mesa Diretora, em especial o texto do último parágrafo: “Por fim, informamos que a Câmara Municipal de Itajubá está comprometida com a causa, atenta a realidade local e aberta ao diálogo junto ao Chefe do Executivo para colaborar, no que couber, no combate a esta pandemia”; esse trecho , bem como todo texto, inclusive, é público e pode ser consultado pela população no site da Câmara Municipal de Itajubá; (4) assim que o Prefeito sinalizou uma necessidade urgente (e isso aconteceu na última semana), a Mesa Diretora já se debruçou para apurar o valor que será possível devolver ao Executivo (e isso acontecerá, certamente, nessa semana de 20 a 24/abr).
CP - Itajubá está preparada para um aumento de casos, caso ele aconteça, já que as medidas do executivo foram em direção a um isolamento parcial, com a reabertura do comércio?
Molina: Geralmente tenho uma postura positiva e otimista. Nesse caso, tendo a manter essa minha característica e, portanto, acredito que SIM, estamos nos preparando bem. Estão acontecendo o envio de emendas parlamentares, de recursos do Executivo Federal e há também uma grande movimentação de entidades e cidadãos itajubenses, uma verdadeira corrente do bem para as ações necessárias de combate à pandemia. Acho importante a reabertura do comércio e a volta gradativa à “normalidade”, sempre considerando as diversas recomendações de distanciamento, até que estejam estabelecidos os tratamentos e a tão esperada vacina.

CP - Há um bom diálogo entre o Executivo Municipal e o Estado de Minas Gerais?
Molina: Não tenho conhecimento de diálogos diretos entre o nosso prefeito e o governador. Vejo ações conjuntas dos municípios mineiros, nas quais Itajubá se faz representar pelo nosso Secretário de Saúde, Nilo Baracho, e sua equipe. Tenho a impressão de que o nosso Executivo Municipal tem andado um passo à frente do Estado. Em minha opinião, um exemplo claro é a flexibilização do comércio, prevendo o uso de máscaras e outros cuidados que, dias depois, figuram nas decisões do Governador Romeo Zema.

CP - Recentemente, você foi uma das vozes mais marcantes contra o projeto que sugeria uma alteração no calendário de feriados da cidade. É possível dizer que Itajubá perde tempo com pautas como essa?
Molina: Eu fui contra o projeto de 2017 que retirou do rol de feriados municipais o nosso 19/mar. No entanto, fui um dos proponentes do Projeto de Lei, de 2019, votado agora em 2020, que restabeleceu o feriado de 19/mar (dia de São José Esposo que coincide com o aniversário da cidade). Itajubá, de fato, perdeu tempo com uma discussão vazia lá em 2017, embora a demanda tenha sido legítima de uma parte da sociedade que preferia o outro feriado.

CP - A decisão pela redução do número de vereadores foi acertada? Por quê?
Molina: Sendo sincero, ainda tenho dúvidas a esse respeito. Penso que o tempo nos dirá. Eu estava entre os que defendiam o número de 13 ou 15 vereadores. O que sei é que, por exemplo, quando tínhamos 10 vereadores as reuniões de comissões permanentes praticamente não aconteciam e agora, com 17, elas são bastante produtivas e importantes para a tramitação legislativa. Com 11 bons vereadores, teremos a oportunidade de fazer mais com menos. Quem sabe? Espero que dê certo.

Que mensagem você deixa à população neste tempo de cautela devido à COVID-19?
Molina: Não me ocupando de “chover no molhado”, prefiro dizer como um grande amigo tem dito: “Não desperdice o Covid”. A ideia é que aproveitemos para aprender muito nesse tempo de aflição e dificuldade. Isso inclui o aprendizado de como viver melhor entre familiares, amigos e colegas de trabalho; o aprendizado de como trabalhar melhor, mesmo sem o chefe “em cima”; e, principalmente, o aprendizado de que dependemos do cuidado de Deus para vencer nossos desafios diários.

Comentários

  1. Legislativo de qual cidade você pertence? Saúde aos frangalhos e educação relegada a segundo plano. Vem dizer que Itajubá a frente??? Nos poupe com sua propaganda barata.
    Aqui Jair Alvino.

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    Respostas
    1. Obrigado pela participação, Jair. O Blog apenas reproduz o que é respondido pelo entrevistado. Um abraço!

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