Hipocrisia: eu (não) quero uma pra viver

Quando Lula assumiu o poder em 2003, depois de sucessivas tentativas na corrida presidencial, a figura e o discurso apontavam para um país mais justo do ponto de vista social e uma honestidade sem igual. Sob promessas de pagar a dívida externa, antimperialista e um fortalecimento de indústrias nacionais, o povo parece que tinha feito um candidato realmente popular.

Vieram os escândalos de 2005 (mensalão) e de 2007, mas não foram suficientes para derrubá-lo. Aparelhado pela máquina e apoiado por eventos populares, caso da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o que se viu foi uma torcida organizada a favor do Partido dos Trabalhadores. Lula tornou-se intocável a ponto de conseguir eleger sua sucessora, envolvida em uma das maiores omissões da história. Basta digitar Pasadena Petrobras no Google mais próximo da sua casa.

Vieram, ainda, provas e mais provas da maior organização criminosa do país, envolvendo empreiteiras renomadas e diretores consagrados no mundo corporativo. Lula se esfacelou no discurso da anti-corrupção e se viu envolvido - pasmem - com um Departamento de Propina.

Lula diz que Bolsonaro 'violou direitos' em discurso e fará queixa ...


O antídoto? Um candidato moralista, alguém que chegasse para botar ordem na casa, longe da velha política. Quem sabe fosse próximo do Exército, afinal, o país estava decadente por conta de uma prática longe do discurso.

A figura de Jair Bolsonaro, paladino da moral e dos bons costumes buscou merchandising em Sérgio Moro, juiz responsável pela maior operação no combate à corrupção no Brasil: a Lava-Jato. De repente, não mais que de repente, surgem denúncias de "rachadinhas" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a Alerj, em que um dos praticantes da divisão de verbas é Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro.

Somado a isso, um Queiroz suspeito e depósitos de ordens anormais. O que se faz? Investiga. O que se fez? Transferiu-se o Coaf do Ministério da Justiça para o Ministério da Economia, longe das vistas do então Ministro da Justiça, Sérgio Moro.

O maior revés sofrido pelo governo Bolsonaro encontra outra torcida organizada, que está prestes a assistir ao capitão do navio furado, que diz confiar em seus ministros, mas que demite um a cada semana, sempre com discursos imprecisos e dando voltas que nada têm a ver com o caso.

Ontem, Bolsonaro evidenciou que Moro deveria, na verdade, ser seu guarda-costas. A investigação do "Caso Adélio" é mais uma obrigação para o ego ferido de Bolsonaro porque, à época, ele não era presidente. Por vezes, ele usou o verbo implorar, como se Moro fosse funcionário do clã Bolsonaro. Agora, cercado de investigações que podem igualmente complicar a prática de seu discurso, Bolsonaro mostra quem manda. Só não sabemos por quanto tempo.

O certo é que Lulistas e Bolsonaristas vestiram as camisas da hipocrisia, que poderia resultar numa nova canção, baseada em "Ideologia" de Cazuza: "Hipocrisia, eu quero uma pra viver". E torcer...

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