Cidadã pensante: Rafaela Pereira -"Mesmo que o presidente passe, aqueles que defendem uma ideia, e não um nome, irão se manter fiéis aos valores da direita, e ela não será enfraquecida"
Idealizadora e co-fundadora do movimento "Endireita, Itajubá", Rafaela Pereira viu que o inconformismo com o modo de governar do país somava-se ao de outras pessoas na onda de manifestações que culminaram no Impeachment da presidente Dilma Rousseff, no mandato tampão de Michel Temer e na escalada ao poder de Jair Bolsonaro. Sobre ele, o governador Zema e o cargo do Executivo da cidade ela fala ao Cidadania Pensante nesta semana.
Confira:
Cidadania Pensante - Você é uma das idealizadoras do grupo "Endireita Itajubá'' que surgiu na onda pós-impeachment, em 2016. Qual a atual situação do grupo? Existe pretensão em participar das eleições municipais de forma direta?
Confira:
Cidadania Pensante - Você é uma das idealizadoras do grupo "Endireita Itajubá'' que surgiu na onda pós-impeachment, em 2016. Qual a atual situação do grupo? Existe pretensão em participar das eleições municipais de forma direta?
Rafaela: Quando o Endireita Itajubá foi fundado, em 2016, éramos um grupo de pessoas buscando representatividade na política municipal. A ideia era identificar candidatos ao Executivo e Legislativo, que defendessem as pautas da ''Direita''. Estas eram o combate ao aborto, à ideologia de gênero, à legalização de drogas, à doutrinação nas escolas, e o apoio à liberdade econômica, ao direito de defesa e à diminuição gradual do Estado.
Acontece que desde as nossas primeiras reuniões, em 2016, enfrentamos certas dificuldades ao perceber que o termo ''Direita'' era muito mais amplo, e dentro dessa nomenclatura existiam diferentes posições políticas e ideológicas e, embora tivéssemos pautas em comum, havia diferenças significativas às da Direita Libertária, por exemplo. Formamos então, um núcleo de estudo e liderança que, após diálogo, decidiu que o movimento se identificava com a Direita Conservadora.
Nas eleições de 2018, nós conservadores nos juntamos aos antipetistas, aos liberais, aos libertários para conseguir derrubar um sistema decadente e corrupto que assolava o país. Hoje, com identidade consolidada, seguimos acompanhando a política em esfera Nacional e Municipal. Buscamos conhecimentos sólidos e informações acuradas, a fim de melhor nos posicionarmos diante da realidade que se apresente à nossa frente, e não sermos apenas levados na correnteza direitista.
Quanto às eleições municipais, não existe tal pretensão. Nosso objetivo se manteve o mesmo do início, identificar e apoiar, pessoas e ideias que possam transformar o cenário político itajubense em um ambiente cuja moral e ética sejam valores fielmente observados. Nosso movimento é suprapartidário e decidimos, desde a sua criação, que o apoio de qualquer membro a um político seria de maneira individual, e não em nome do nosso grupo Endireita Itajubá.
CP - Dos nomes que estão cotados para o executivo, qual é o melhor? Por quê?
Rafaela: Os nomes ainda não estão oficialmente definidos, portanto vou opinar segundo as informações que se ouve de forma difusa.Em primeiro lugar, acredito que qualquer candidato filiado a partidos socialistas como PT, PSOL, PSTU, entre outros está excluído dessa possibilidade. Não bastasse ser o socialismo uma ideia falida, é contrário à moral cristã e aos valores conservadores. Por exemplo, a Igreja Católica condena de forma enfática que cristãos apoiem o socialismo em sua Doutrina Social. Juntamente com esses partidos, excluo o candidato do PV (Dr. Ricardo Zambrana é um nome cogitado), pois este partido também tem pautas contrárias a essa moral. Algumas bandeiras que esses partidos defendem são: a legalização do aborto e das drogas, a ideologia de gênero e a doutrinação nas escolas.
Do DEM, partido de Maia e Alcolumbre, surge o nome do Christian, vice-prefeito do Rodrigo Riêra. Deve-se considerar que o atual vice-prefeito não foi tão atuante nessa gestão. Negar essa afirmação então é concluir que ele foi conivente com uma gestão superficial, que negligenciou necessidades fundamentais da cidade (saúde e geração de emprego). Além disso, o período em que já dura essa gestão é marcado por denúncias e falta de transparência. Concluo portanto que não é uma opção aceitável.
O nome do Dr. Bob, por sua vez, parece ainda um nome novo ao cidadão itajubense. A lembrança que geralmente as pessoas apresentam é que ele foi um candidato a deputado estadual da nossa região. Fica aparente que seu objetivo, nesta disputa à Prefeitura de Itajubá, é o de promover seu nome para, futuramente, tentar a vaga no legislativo estadual ou federal. Não posso dizer confortavelmente, que o Dr. Bob seja uma opção para o Executivo.
Chegamos então ao Dr. Ricardo Mello (PP). Não o conheço pessoalmente, assim como os demais candidatos. Mas é notável como ele é amplamente associado, em diversos meios sociais, a uma pessoa genuína e do bem. Seu nome é, sem dúvida, o mais forte na disputa eleitoral, e que pode trazer uma verdadeira mudança ao cenário político de Itajubá. Digo isto, baseada no resultado das eleições em 2016, onde obteve cerca de 41% dos votos, mesmo tendo sido vítima de um campanha injusta de desgaste de sua imagem. Na ocasião, já buscando um candidato que possibilitasse essa mudança política, cogitei em dar-lhe meu voto. Porém, ele era filiado a um partido (Rede) cuja ideologia não era compatível com meus valores. Também, pesava sobre ele, a acusação de que seria a favor da implementação da ideologia de gênero no Plano Educacional. Sem tempo hábil e maturidade para buscar a verdade dos fatos, acreditei em tal imagem, manchada, que me passaram de sua pessoa. Agora, após 4 anos, buscando a verdade me deparei com uma armação covarde e caluniosa, que infelizmente alcançou o resultado esperado por seus opositores naquela eleição. Tenho toda a documentação (que é pública) e pela justiça tenho divulgado e apresentado à todos que gostam de conhecer a verdade.
Penso que ele sofreu uma considerável rejeição por estes fatos naquela oportunidade. Considerando os votos que obteve em 2016, e afastando aquela falsa imagem criada anteriormente, seu nome vem com força para esta eleição. Acredito, portanto, que é o melhor candidato.
CP - Itajubá é uma cidade melhor depois da gestão atual? O que melhorou em comparação aos mandatos anteriores?
Rafaela: "Sim! Temos um Parque lindo! Que proporciona lazer e saúde, e deu cara nova à cidade". Esta é a resposta comum de se ouvir, embora não seja toda ela verdadeira. Itajubá não é melhor, ela está mais bonita, ponto.
A atual gestão teve êxito ao investir, extraordinariamente, em marketing travestido de vídeo institucional, e causar a impressão de ter feito muito pela cidade. Consequente a essa forte propaganda, acabamos atribuindo à atual gestão conquistas que foram alcançadas anteriormente, por exemplo: as creches dos bairros Varginha e Estiva, a ponte na Boa Vista ligando ao São Judas Tadeu e a Escola Municipal da Anhumas.
Além disso, não poderia uma cidade em que há cidadão aguardando exames de saúde, desde 2014, ser considerada "uma cidade melhor". Nas redes sociais, é trivial ver reclamações de pessoas que chegam a ficar 8 horas aguardando por atendimento e outras sem medicamentos essenciais.
Então, creio que a saúde vem sendo negligenciada, e um exemplo disso é a diminuição progressiva de repasse ao Pronto de Socorro da Santa Casa, que culminou no seu fechamento.
Também há a críticas relacionadas à geração de empregos em Itajubá, que esteve ao longo desses anos nos primeiros lugares do ranking de desemprego do Sul de Minas.
Outro tipo de manifestação negativa feita por cidadãos e comum de se encontrar nas redes sociais é sobre a qualidade do asfaltamento, que não é duradouro e feito de forma que não favorece o escoamento das águas, causando alagamento em dias chuvosos.
Bom, claro que pela justiça deve-se destacar alguns feitos positivos da atual gestão, como o restaurante popular, o aumento do efetivo da Guarda Municipal e a qualidade das escolas municipais.
Entretanto, mantenho minha opinião, que Itajubá não será melhor enquanto nossa saúde e geração de empregos estiverem negligenciadas.
CP - De que maneira eu posso aproximar as pessoas da política para conseguir, por exemplo, uma demanda no meu bairro?
Rafaela: Minha primeira sugestão é que marque uma reunião com um dos vereadores na Câmara Municipal.Quando dizemos que uma das funções dos vereadores é representar os cidadãos significa, de maneira prática, receber a demanda de um indivíduo ou coletivo e indicar para que o Executivo analise e decida se esta é viável. É importante que todos saibam que a Câmara Municipal e seus vereadores estão abertos para receber cada cidadão e ouvi-lo.
O cidadão também pode se aproximar dos vários órgãos do executivo e apresentar suas sugestões. Como por exemplo, se identifico que é necessário uma placa de trânsito na rua da minha casa, apresento essa sugestão junto ao DETRANIT.
Além disso, em Itajubá temos ferramentas como o Fala Cidadão, do site da Prefeitura, ou o Fiscaliza Itajubá, do site da Câmara, onde as pessoas podem apresentar suas demandas.
O grupo acompanha o trabalho do governador Zema? Como você avalia a gestão dele até aqui?
Rafaela: O grupo nunca levantou uma discussão voltada exclusivamente ao Governo Estadual. Entretanto, acredito que cada membro tem buscado acompanhar a política em todas as suas esferas.
Romeu Zema tem se mostrado fiel a campanha que fez, e ao povo que o elegeu.
Vale lembrar que desde 2016, o Estado de Minas Gerais enfrenta uma crise econômico-financeira.
Dentre os feitos de seu mandato, destaco três que foram polêmicos mas acertivos: a reforma administrativa de suas secretarias; a proposta aprovada para a venda dos créditos do nióbio, para sanar o problema de salários atrasados dos servidores; e o reajuste salarial para os servidores da segurança pública, que há 4 anos não acontecia.
Com relação ao enfrentamento à pandemia do COVID-19, Romeu Zema mostrou que, de fato, é muito mais administrador do que político. E assim se mantém, tentando se afastar de polêmicas políticas e dando atenção às necessidades que o momento pede. O resultado disso é Minas Gerais com os menores índices de mortalidade, e compras de respiradores com valores muito menores, se comparados aos praticados pelos estados cujos governadores focaram em fazer oposição ao Governo Federal.
CP - As críticas ao governo Bolsonaro se acentuaram com a pandemia de COVID-19. Como você as enxerga: exageradas, justas ou desnecessárias? Por quê?
Rafaela: (Risos) Interessante, porque na sua pergunta fica evidente que a maioria das críticas são ataques diretos ao Governo Bolsonaro e não, de fato, às medidas que têm sido tomadas para o enfrentamento da pandemia. E é justamente como vem acontecendo, usando deste momento inoportuno para atacar o Governo, motivados apenas em fazer oposição.
É justo todo questionamento em cima das medidas adotadas, quando feito de maneira técnica.
Também é justo que muitos sintam aversão à maneira do Presidente se pronunciar, e à má escolha de suas palavras.
Exagerado e desnecessário é se apegar à falta de polidez do Presidente, e imputar-lhe o sentimento de descaso com a população, ignorando então as medidas favoráveis tomadas em prol da mesma.
Do ponto de vista técnico, não consigo dizer se estas críticas são justas ou não. É um momento novo em todo o mundo. As informações vêm de forma muito rápida, e da mesma forma se dissipam.
Ora uma pesquisa comprova algo aqui, ora a mesma pesquisa é desmentida do outro lado do mundo.
Há os doutores, economistas, biólogos formados no Facebook (rs) que saem apontando, nas redes sociais, o que deve ser feito partindo de resultados obtidos em países nada compatíveis com o Brasil. São muitas variáveis a serem consideradas: clima, cultura, faixa etária da população, economia, enfim... Creio que líder de país algum esteja cem por cento seguro das medidas adotadas, e nenhuma população cem por cento satisfeita.
CP - A Direita enfraquece com os tipos de atitudes do presidente, ou ainda tem crédito depois dos dois governos de esquerda que o Brasil teve entre 2003 e 2016?
Rafaela: De fato, após os 13 anos de governo petista, marcados por escândalos de corrupção, surgiu de forma natural, em boa parte dos cidadãos brasileiros, um sentimento de nacionalismo e anticorrupção. Esse sentimento se configurou na prática, contra o governo então vigente, como um movimento que chamamos antipetismo.
Podemos dizer que os movimentos da direita e do antipetismo se aliaram para eleger o presidente Bolsonaro, no entanto, não se confundem. A direita, com seus próprios princípios, não é baseada no antipetismo, e nem o antipetismo é fiel à ideologia da direita.
Independentemente de qualquer atitude do presidente, um fenômeno de segregação vem acontecendo naturalmente. Por um lado, há pessoas que ficaram na superfície, defendendo apenas ideias e de forma impensada. Por outro lado, há aqueles que decidiram por se aprofundar em seus ideais e saber o porquê o defendem.
O crescimento da mídia independente na internet, em oposição à grande mídia, tem favorecido esse encontro do indivíduo com sua identidade política e ideológica. Como consequência diversas pessoas se identificaram e se aprofundam em suas posições da direita.
Os acertos do Presidente ainda se sobressaem aos seus erros, entretanto, mesmo que o presidente passe, aqueles que defendem uma ideia, e não um nome, irão se manter fiéis aos valores da direita, e ela não será enfraquecida.
CP - Muito se fala em Lulismo às avessas. Os apoiadores de Bolsonaro caminham para um lugar sem volta, ou seja, podem morrer abraçado a ele. Isso não é incoerente com o que vinha sendo tão criticado pela própria direita?
Rafaela: Sim, seria incoerente visto ao preto e branco, mas existem mais matizes a serem analisadas. Não se pode comparar os primeiros 17 meses do governo Bolsonaro com os 13 anos de governo PT, com escândalos de corrupção, deterioração da economia, alto índice de desemprego, improbidades administrativas, condenação e prisão de seu líder máximo.
Quando assim colocamos o Lulismo, estamos falando de pessoas defendendo o PT e suas máximas lideranças, mesmo depois de tantas evidências de um Governo corrupto e decadente. É verdade que não se pode generalizar, para ambos os lados. Mas o fato é que o Lulismo foi enraizado há muito mais tempo, e em um tempo em que a informação não corria como hoje. A grande mídia dominava, e não havia espaço para uma busca quase personalizada por transparência.
Apoiadores do Bolsonaro, por outro lado, surgem em uma época em que multiplicam-se as mídias independentes. Podem portanto, contrastar os fatos ouvidos nas diferentes mídias, buscar transparência em diversos órgãos, formar opiniões mais sólidas e acompanhar, de fato, o seu trabalho. Por isto, mesmo seus apoiadores mais críticos em relação a sua postura, mostram-se satisfeitos com os resultados que seu governo tem apresentado.
É possível que uma minoria fanática se apresente disposta a "morrer abraçada a ele", mas acredito que a maior parte dos seus apoiadores estão buscando permanecer com a razão. Um exemplo recente foi quando o ex-ministro Sérgio Moro deixou o Ministério da Justiça, com um pronunciamento chocante, que parecia denunciar crimes do Presidente Bolsonaro. Os seus apoiadores perderam o chão, o sentimento de traição e decepção era visível tanto nas postagens no Facebook, por exemplo, quanto no próprio silêncio.
Alguns apoiadores, após o pronunciamento do Presidente, deram-se por convencidos e manifestaram que manteriam seu apoio; outros, aguardavam a investigação da PGR; outros esperavam o pronunciamento do "tal" Valeixo; e outros pularam do barco, mostrando que para tudo há um limite.
Então, essa pausa que os apoiadores fizeram, como que em luto, e momento para processar os fatos, mostra que há uma diferença grande entre os apoiadores do Presidente e os lulistas.
CP - É possível fazer política sem parecer torcida organizada de futebol? Como?
Rafaela: É possível, mas requer amadurecimento individual. Cada cidadão tem que fazer o esforço pessoal de sair da inércia política que se encontra.
Percebo que as pessoas saíram do "política não se discute" e compreenderam que discutir política é relevante. Mas ainda há uma falsa sensação de participação na política, quando na verdade o individuo está apenas replicando as falas de uma corrente política. Essa é a torcida de futebol!
Para criar uma cultura política de verdade, é necessário evoluir na qualidade dos nossos debates e discussões, que devem ser baseados em argumentos sólidos e fatos .
Discordar de atos políticos e ideológicos é a máxima da liberdade, respeitar as opiniões contrárias é fundamental para a democracia.
Utilizando ainda a comparação entre torcida organizada de futebol, devemos lembrar que quando estamos "torcendo" para um time ganhe, consequentemente desejamos que o outro perca. Isso é possível em um momento de eleição. Posterior a isso, com os políticos já eleitos, nos resta "torcer" para um só time: A população brasileira.
Parabéns Rafaela pelas sábias palavras e lucidez democrática e política.
ResponderExcluirObrigado pela leitura, Adriano! Compartilhe e incentive a leitura!
ExcluirParabéns Rafaela pela clareza de seus pensamentos e opiniões. Creio que muitos comunguem das mesmas visões tuas. Itajubá merece muito mais do que vem recebendo do legislativo e executivo.
ResponderExcluirObrigado pela interação, Jair! Compartilhe a entrevista. Abraços!
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