Transparência e seriedade com vivos e mortos


Ilustração criada pelo Centro de Controle de Prevenção e Doenças (CDC/Unsplash)


A pandemia de Covid-19, que chegou ao Brasil em março, já fez 25,6 mil mortes. Pelo menos, esse é o número contabilizado, por atestados de óbito, imagino. Imagino porque temos os dois lados da moeda, acredite, também em uma pandemia: o da subnotificação e o do causa mortis pelo vírus mesmo depois de o exame apontar a inexistência dele no corpo da pessoa, dias antes de ela falecer.

Quando falamos em subnotificação, temos dois problemas seríssimos: a falta de testes e a desinformação da população. Na última semana, menos de 1 milhão de pessoas foram testadas. Considerando pacientes sintomáticos e assintomáticos, não cabe mais a discussão em números porque muitas mais pessoas podem ter contraído o vírus desde que ele chegou ao Brasil. Um estudo da UFPel - Universidade Federal de Pelotas - indicou que o número de infectados é, pelo menos, sete vezes maior que o estabelecido estatisticamente até agora (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/04/numero-de-casos-de-covid-19-e-sete-vezes-maior-estima-primeiro-grande-estudo-no-brasil.shtml).

O Brasil é um país continental, mas parece que os que estão à frente da saúde - quem são? interinos? - não se deram conta. Na região Norte, por exemplo, há muitos municípios sem uma Unidade Básica de Saúde devidamente estruturada para testes. Testes. Que dirá para o tratamento... Nunca saberemos ao certo o número de infectados porque não há transparência e seriedade com vivos e mortos. 

Isso porque o protocolo é impreciso e, diria até, incoerente com o que dizem as autoridades sanitárias do Brasil e o Presidente da República. Ele rebate a "gripezinha", alegando que as pessoas chegam com diagnósticos diferentes e são constatas com Covid-19. Mas os próprios hospitais alegam que o protocolo é o seguinte: se a pessoa foi internada apresentando um dos sintomas, o teste é feito. Mesmo que o resultado seja negativo, se ela vier a óbito no intervalo de 14 dias - período de incubação do vírus - a causa mortis é Covid-19. 

Não há uma diretriz em meio à maior crise de saúde mundial em 100 anos em um país continental. Não há direcionamentos claros para a população, que sofre e se digladia entre a subnotificação e a inflação do número de casos. Um caos, porque não há transparência, nem seriedade com vivos e mortos.

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