Um dia de domingo

Domingo é um dia diferente. Há uma certa liturgia: "em condições normais de temperatura e pressão", uns vão para a banca, uns caminham no parque, outros vão à igreja pela manhã. Depois, unem-se cada qual à sua família para, então, trocar as palavras da semana, seguidas de um cochilo, ou de um carro lavado. Os que gostam de futebol ficam aguardando e declaram o domingo como encerrado quando o árbitro apita o final, porque, segundo alguns, a depressão do domingo começa às 18h e se estende até a vinheta do Fantástico. Fato que o domingo tem um quê de idealização, como parecem ter as figuras públicas deste país.
Primeiro, foi Luiz Inácio da Silva. Um torneiro mecânico, líder sindicalista, esperança da classe baixa, com o discurso de fortalecimento nacional, antimperialismo, anti-capitalismo. Depois de um Impeachment e uma séria crise elétrica, o Brasil viu em "Lula lá" uma estrela que não se apagaria. As delações vieram e o que se viu foi a institucionalização da corrupção no país, um elo sujo entre empreiteiras e Estado a ponto de haver um departamento de propina em muitas delas.
O que veio depois é resultado da decepção do povo. Na busca incessante por um político perfeito, nada melhor do que escolher o discurso contrário. E, nessa, Bolsonaro surfou muito bem e saiu de Deputado Federal para Presidente da República, prometendo combate à corrupção, investigações no Banco Nacional de Desenvolvimento Social e um novo Brasil, "acima de tudo". Não se passaram 18 meses de governo e as ações de Bolsonaro vão muito na contramão do que ele pouco discursava.
A idealização, agora, sai do Messias, que, como ele mesmo disse e sabe, não faz milagres, e caminha em direção a Sérgio Fernando Moro, um ex-juiz federal que atuou na Operação Lava-Jato. Ele apenas fez seu trabalho e apertou o cerco dos poderosos, trouxe a sensação de que "A lei é para todos" e ganhou status de herói. Foi, por isso, convidado a compor o governo, mas deixou a pasta da Justiça porque, segundo ele, o Presidente queria intervir nas ações da Polícia Federal. Moro é o ideal da vez, por isso, já rejeitado pela ala bolsonarista.
Assim como em quase todos os dias de domingo não repetimos a liturgia pela qual aguardamos, o brasileiro continua a idealizar pessoas públicas, ainda que o tempo passe, as pessoas passem e os lugares não se repitam, esquecendo-se de que todo governo tem medidas agradáveis e desagradáveis.
Ah, hoje, por sinal, é um bom dia para se pensar sobre isso. Um dia de domingo.
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