Entrevista: Leandra Machado - "Muitos, como eu também, sabem que não querem mais nem o governo anterior, nem este que aí está porque não nos representa. Ambos populistas e centralizadores."
Ela já foi presidente de Associação de bairro, vereadora e candidata ao legislativo Federal. Aposentada, conta ao Blog que voltou aos bancos escolares para fazer Direito e encontrou coerência no atual partido ao qual é filiada. Leandra Machado é a entrevistada dessa semana!
Confira:
Cidadania Pensante: Muito se fala em seu nome para uma eleição ao Executivo municipal, mas, em 2018, você preferiu o Legislativo. Você se arrepende?
Leandra Machado: Não me
arrependo não. Foi um experiência incrível, tanto politica como de vida e consolidou, dentro de mim, a compreensão de
que meu perfil é da construção de novas propostas para um Brasil melhor. Sou
mais legislativo.
Cidadania Pensante: Acha que foi
precipitada a sua candidatura?
Leandra: Não, ela foi
necessária. Nosso partido foi formalizado próximo das eleições de 2018. Como
trabalhamos com metas, uma delas, na época, era ter candidaturas para o Congresso,
para a Presidência da república e para o Governo em alguns Estados, dentre
eles, Minas. Sentindo-me capaz para enfrentar este desafio, fiz minha inscrição
no processo seletivo e, após 3 meses de atividades avaliativas, fui aprovada.
Posteriormente, abriram inscrições também para candidaturas a deputado estadual, mas os já selecionados
para candidatura a Deputado Federal, que ja compunham a chapa, não poderiam
migrar. E era este o meu caso.
Cidadania Pensante: As pessoas falam
que você tem um comportamento mais verbal e menos ativo. O que diz sobre isso?
Leandra: Não entendo
a origem deste comentário, mas o que posso dizer é que, como professora de alma
e de formação, tenho facilidade em expor ideias e, por esta característica, sou
conhecida. Vejo-me também como uma
pessoa com bom nível de resolutividade. Desde jovem, me envolvia com
movimentos da comunidade e da Igreja, participando
de atividade sociais junto a entidades locais.
Já fui
diretora da associação do bairro do Cruzeiro, diretora social da Associação
Comercial, quando, então, criei o evento mensal chamado “Happy Hour Só Mulheres”
para troca de experiências entre mulheres associadas e segui realizando
posteriormente, por mais de 10 anos, com várias parcerias, o mesmo evento. Como empresária, criei o programa de Rádio “Mulheres
Empreendedoras”, atualmente na Rádio Itajubá, para contribuir com o nosso empoderamento e que está no ar ate hoje. Como
vereadora, durante meu mandato mantive uma turma de 30 alunos/ano no SENAI no
curso de eletricista predial com o meu subsídio, também elaborei projetos
importantes que foram aprovados e seguem funcionando até hoje, dentre eles:
criação do conselho municipal
da mulher, autorização para convênio com
a prefeitura para criação da delegacia da mulher em Itajubá, lei do prêmio
gentileza urbana para cidadãos que contribuem espontaneamente com o embelezamento
da cidade, lei de redução das férias dos vereadores para 30 dias/ ano, pois
eram 60 dias e a lei que extinguiu a remuneração das reuniões extraordinárias da
Câmara Municipal, além do subsidio mensal. Como secretária de desenvolvimento
econômico, embora atuando somente por dois anos, elaboramos um projeto em parceria
com UNIFEI, INCIT E FACESM: o projeto de educação empreendedora pela prefeitura
no qual vários itajubenses se qualificaram e se transformaram em microempreendedores
individuais. Criamos, também, a sala do empreendedor, que ainda existe. Olhando
para trás, só posso dizer que sinto que tenho atuo com coerência e equilíbrio
entre a prática e o discurso.
Cidadania Pensante: O que a fez ir
para o Partido Novo?
Leandra: Após
trabalhar com dedicação em minha campanha para vereadora, e depois em duas
campanhas municipais em nome da renovação permanente, pois sou contra reeleição,
decidi que deveria colocar em prática outro valor que sempre tive, mas nao
conseguia momentaneamente honrar: a coerência partidária. Foi então que me
desfiliei em 2014 e assim fiquei até 2016, quando conheci o NOVO que ainda nem era
partido politico. Eu me uni a eles, me inscrevi como contribuinte e, em 2017,
me tornei filiada, no mês seguinte à confirmação da criação do partido.
Cidadania Pensante: O que tem
aprendido lá em relação aos outros aos quais já se filiou?
Leandra: No partido
NOVO, só não participa da sua construção e das discussões quem não quer. O NOVO
não existe somente nas fases eleitorais. Nós temos atuações e atividades politicas
durante todo ano. Trabalhamos em grupo, não há uma pessoa mandando e os outros
obedecendo. Esta estratégia colaborativa faz com todas as pessoas sejam
protagonistas. Não existe um mandando e outro obedecendo. Todos somos parte.
Cidadania Pensante: O partido tem
perspectivas de crescimento no âmbito municipal, ou as etapas para se tornar um
candidato afastam as pessoas?
Leandra: De maneira
geral, as pessoas somente se animam com a política partidária em período
eleitoral. O NOVO consegue manter as pessoas envolvidas de forma mais
permanente, mas, mesmo assim, a decisão de limitar a participação nas eleições
deste ano esfriaram os ânimos dos filiados do interior sim. Não ocorreram
muitas desfiliações, mas as pessoas se aquietaram. Elas seguem mais
ativas nas mídias do partido, acompanhando as questões nacionais e estaduais.
Cidadania Pensante: Ainda falando
sobre o Novo, como avalia a gestão Zema à frente do Estado? Ele tem cumprido as
promessas de campanha, mesmo com os sucessivos episódios em Minas e no Brasil,
como a tragédia de Brumadinho e a pandemia, respectivamente?
Leandra: Tive a
oportunidade de conhecê-lo no período em que ele ainda estava pré-candidato.
Desde então, vejo que ele fala e vive de forma coerente. O seu discurso é espontâneo
e sintonizado com nossos princípios partidários porque é sua linguagem natural.
Ele pensa como nós pensamos, por isso não precisou fazer adequações ao seu
discurso para se candidatar. O seu compromisso de campanha, como também o do
NOVO, foi garantir uma gestão profissional, austera, tendo como prioridade a
recomposição financeira do estado para garantir bons serviços prestados
aos mineiros. Era o mote de campanha. Sem colocar em ordem a casa, não há futuro
para o governo de Minas. Segundo ele, o Estado e a família funcionam
igualzinho: se gastar mais do que ganha, entra em colapso. As tragédias pelas
quais Minas passou e está passando podem dificultar o alcance das metas de desempenho, mas não
significa quem sejam impossíveis. Com a pandemia, foi preciso repactuar os salários
por causa da queda de mais de 40% da arrecadação, mas o governador se preocupa
em garantir previsibilidade. Tenho convicção de que ele vai entregar um Estado
bem melhor do que recebeu, não somente em termos financeiros, mas também em
qualidade dos serviços públicos e na entrada de
investimentos no setor privados.
Cidadania Pensante: E o
Presidente Bolsonaro?
Leandra: Entendo o
espirito do eleitor. Estive nas ruas durante a campanha eleitoral de 2018. Fui
pessoalmente em 24 cidades do sul de Minas para me apresentar. Andei pelas
ruas, panfletei, conversei com as pessoas . Em sua maioria, elas sabiam que não
queriam mais o PT, mas ainda não sabiam bem em quem iriam canalizar sua intenção
de voto. Bolsonaro, ao longo da caminhada, foi aparecendo como aquele que teria
força para inviabilizar a continuidade do governo anterior. Era visível este
sentimento. Agora eleito, as pessoas estão conhecendo quem é Bolsonaro. Muitos,
como eu também, sabem que não querem mais nem o governo anterior, nem este
que aí está porque não nos representa. Ambos populistas e centralizadores.
Cidadania Pensante: Bolsonaro tem feito um governo de acordo com as expectativas criadas em torno dele?
Leandra: Percebo que o presidente está focado em questões secundárias, insignificantes e pessoais. Não
tem espirito público. Muitos de seus eleitores já o abandonaram pela sua
instabilidade emocional e pela dificuldade de conduzir o país pelo caminho democrático.
Cidadania Pensante: A decisão de não se candidatar para qualquer
cargo em 2020 foi um consenso com o partido, ou uma decisão sua?
Leandra: Ambos. O
partido Novo definiu o perfil das cidades que terão diretório e participarão
das eleições de 2020: os requisitos foram vários, dentre eles, numero de habitantes, no minimo 120 mil
habitantes. Sendo filiada e me identificando com seus valores e princípios,
optei por seguir suas decisões e não me candidatar por outra
legenda.
Cidadania Pensante: Em relação à cidade, seu apoio nas eleições municipais de 2020 é pessoal ou institucional?
Leandra: Novamente,
tenho que dizer ambos. A orientação do NOV vai por dois caminhos: se um filiado
quer ser candidato localmente, e não sendo possível pelo NOVO, deve se filiar
em outro e se candidatar. Se quiser participar de um grupo politico, pode
fazê-lo se comprometendo em lutar pelos valores e pelos princípios de gestão do
NOVO neste grupo suprapartidário. Eu
escolhi o segundo caso. Sigo NOVO de alma e
estou em um grupo de trabalho político levando nossos valores para o
plano de governo e estratégias de campanha deste grupo.
Cidadania Pensante: Quem vai apoiar?
Leandra: Ainda não é oportuno
dizer nomes pela legislação eleitoral, mas posso dizer com convicção que chegaremos lá! A chance de eleição
do nosso candidato é grande e, juntos, poderemos dar saltos positivos na gestão
de nossa Itajubá.
Cidadania Pensante: O espaço para a mulher na política ainda é limitado
em todos os poderes, ou o cenário já é bem mais positivo comparado ao que você encontrou
quando chegou na Câmara
Municipal?
Leandra: Infelizmente,
as mulheres avançaram muito pouco desde que fui eleita . Fiz e faço um esforço
para empoderar as mulheres no setor político, pois, em outros espaços, já
avançamos muito. Na politica, principalmente local, as mulheres itajubenses são
muito reacionárias.Tivemos grande dificuldade em garantir os 30% de participação
no roll de candidatos a vereador.
Cidadania Pensante: Sua mãe tem um histórico muito bonito de
trabalho com as pessoas com necessidades especiais. Por que esta é uma pauta
ainda muito afastada da política, se comparada a importância que ela tem em
diversas frentes?
Leandra: As pessoas
com necessidades especias estão no conjunto das pessoas diferentes. Esta
discriminação está reduzindo lentamente, mas sinto que está acontecendo com
mais velocidade do que há dez anos. Sair mais, conviver mais, mostrar a cara,
mostrar as limitações ajuda a acabar com a discriminação. Digo isso porque vejo
que as pessoas que trabalham na APAE não veem as crianças que lá frequentam como diferentes. A politica inclusiva é o caminho,
mas inclusiva com a ciência de que muitas necessidades especiais precisam de
estruturas específicas nos atendimentos,
nos espaços públicos, nas escolas etc.
Cidadania Pensante: O que a pandemia
da Covid-19 ensinou e pode ensinar aos políticos do país?
Leandra: Eu prefiro
dizer que a pandemia está mostrando a todos nós várias novidades e consolidando
outras, dentre elas: que os três poderes podem atuar com mais celeridade e
eficiência, se assim o quiserem; que respeitar a ciência é fundamental para que
possamos tomar decisões mais assertivas; que o Estado precisa de menos funcionários e de mais tecnologia aplicada nos serviços públicos; que a burocracia pode ser simplificada sem
perda de qualidade, muito pelo contrário; que os gastos com deslocamento para reuniões infindáveis
podem ser economizados porque as reuniões on-line são mais eficientes e mais
baratas e que o processo educativo nas escolas em todos os níveis pode, sem
medo, integrar aulas presenciais com atividade on-line para garantir o
desenvolvimento de novas habilidades necessárias para as novas profissões do século
XXI.
Cidadania Pensante: Além da política,
o que você faz atualmente?
Leandra: Voltei aos bancos escolares. Sou estudante do curso do Direito. Estou no 6º periodo
na FEPI - Centro Universitário de Itajubá. Sigo com o projeto do programa Mulheres Empreendedoras como
organizadora e locutora na radio Itajubá toda quarta-feira das 12h às 13h. Estou
gestora de imóveis no AIRBNB e, há 3 anos, estou aposentada.
Cidadania Pensante: Que mensagem você passa
aos leitores do Blog neste período tão árido em que
estamos vivendo?
Leandra: Desejo que
as pessoas aproveitem este tempo para se conhecerem melhor, para descobrirem o
outro. Curtam mais a simplicidade da vida. E vamos respeitar mais uns aos outros, pois esta pandemia reforçou
a convicção de que somos um só povo.
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